Quem é Jorge Mario Bergoglio?
(pequeno trecho da entrevista)
Tenho a pergunta pronta, mas decido não
seguir o esquema que fixara e pergunto um pouco à queima-roupa: «Quem é
Jorge Mario Bergoglio?» O Papa fixa-me em silêncio. Pergunto se é uma
pergunta lícita para lhe colocar… Ele faz sinal de aceitar a pergunta e
diz-me: «Não sei qual possa ser a definição mais correcta… Eu sou um
pecador. Esta é a melhor definição. E não é um modo de dizer, um género
literário. Sou um pecador».
O Papa continua a reflectir, como se não esperasse aquela pergunta, como se fosse obrigado a uma reflexão ulterior.
«Sim, posso talvez dizer que sou um pouco
astuto, sei mover-me, mas é verdade que sou também um pouco ingénuo.
Sim, mas a síntese melhor, aquela que me vem mais de dentro e que sinto
mais verdadeira, é exactamente esta: “Sou um pecador para quem o Senhor
olhou”». E repete: «Sou alguém que é olhado pelo Senhor. A minha
divisa, Miserando atque eligendo, senti-a sempre como muito verdadeira para mim».
A divisa do Papa Francisco é tirada das Homilias de
São Beda, o Venerável, o qual, comentando o episódio evangélico da
vocação de São Mateus, escreve: «Viu Jesus um publicano e assim como o
olhou com um sentimento de amor, escolheu-o e disse-lhe: “Segue-me”».
E acrescenta: «O gerúndio latino miserando parece-me intraduzível, seja em italiano, seja em espanhol. Gosto de o traduzir com um outro gerúndio que não existe:misericordiando».
O Papa Francisco continua a sua reflexão e
diz-me, fazendo um salto cujo sentido não compreendo, naquele momento:
«Eu não conheço Roma. Conheço poucas coisas. Entre estas, Santa Maria
Maior: ia sempre lá». Rio e digo-lhe: «Todos o compreendemos muito bem,
Santo Padre!». «Sim — prossegue o Papa – conheço Santa Maria Maior, São
Pedro… mas vindo a Roma sempre vivi na Via della Scrofa. Dali visitava
frequentemente a igreja de São Luís dos Franceses e ali ia contemplar o
quadro da vocação de São Mateus, de Caravaggio». Começo a intuir o que é
que o Papa quer dizer-me.
«Aquele dedo de Jesus assim… dirigido a Mateus. Assim sou eu. Assim me sinto. Como Mateus». E aqui o Papa torna-se mais decidido, como se tivesse encontrado a imagem de si próprio de que estava à procura: «É o gesto de Mateus que me toca: agarra-se ao seu dinheiro, como que a dizer: “Não, não eu! Não, este dinheiro é meu!”. Este sou eu: um pecador para o qual o Senhor voltou o seu olhar. E isto é aquilo que disse quando me perguntaram se aceitava a minha eleição para Pontífice. Então sussurra: Peccator sum, sed super misericordia et infinita patientia Domini nostri Jesu Christi, confusus et in spiritu penitentiae, accepto». (Sou pecador, mas confiado na misericórdia e paciência infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo, confundido e em espírito de penitência, aceito).
«Aquele dedo de Jesus assim… dirigido a Mateus. Assim sou eu. Assim me sinto. Como Mateus». E aqui o Papa torna-se mais decidido, como se tivesse encontrado a imagem de si próprio de que estava à procura: «É o gesto de Mateus que me toca: agarra-se ao seu dinheiro, como que a dizer: “Não, não eu! Não, este dinheiro é meu!”. Este sou eu: um pecador para o qual o Senhor voltou o seu olhar. E isto é aquilo que disse quando me perguntaram se aceitava a minha eleição para Pontífice. Então sussurra: Peccator sum, sed super misericordia et infinita patientia Domini nostri Jesu Christi, confusus et in spiritu penitentiae, accepto». (Sou pecador, mas confiado na misericórdia e paciência infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo, confundido e em espírito de penitência, aceito).
Entrevista realizada nos dias 09, 23 e 29 de agosto de 2013
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